domingo, 7 de junho de 2009

UMA VIAGEM DE VOLTA AO SÉCULO 19


Quando estive em Paranapiacaba há muitos anos, nem sabia que esse nome, em tupi-guarani, significava "lugar de onde se vê o mar". O local fez parte da minha adolescência, onde costumava fazer acampamentos, piqueniques e visitas às cachoeiras. Depois de muito tempo, decidi revê-lo e descobri que e a vila está sendo recuperada, apesar de a estação ferroviária ainda parecer abandonada.

A região, tombada pelo Patrimônio Histórico desde 1987, tem sido cada vez mais procurada por turistas que querem conhecer a parte histórica da vila ou praticar esportes como trekking, ciclismo, rapel e arborismo na área de Mata Atlântica, transformada no Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba.

Localizada na região sudeste do município de Santo André (Grande São Paulo), no limite entre o Planalto Paulista e a Serra do Mar, a 55 km de São Paulo, uma das opções é seguir de trem até a estação Rio Grande da Serra e tomar um ônibus até o local. Quem preferir, pode ir de carro ou até de motocicleta, para os aventureiros.

Minha opção é ir de trem, já que são poucas as oportunidades de se aproveitar um passeio desses no Brasil. Os trens da linha CPTM são vazios nos finais de semana e a viagem leva em média 30 minutos, saindo da estação da Luz, com destino a Rio Grande da Serra, e descendo na estação terminal. Um ônibus sai a cada meia hora para a Vila de Paranapiacaba e leva em torno de 20 minutos para chegar ao local. Depois de algum tempo subindo a serra, já pude sentir a mudança de temperatura e a forte neblina, típica da região. E assim começa a viagem no tempo, de volta a 1867, quando a estrada de ferro foi construída pelos ingleses, devido ao aumento do transporte da produção agrícola do porto de Santos para o Planalto Paulista.

A vila ferroviária foi construída em 1896, para os funcionários da companhia inglesa São Paulo Railway e até hoje tem um jeitão londrino, pela névoa que invade a cidade. O local é cheio de ladeiras e assim que cheguei, subi até a parte alta da vila, onde fica a antiga estação, hoje desativada para transporte de passageiros. Já tinha esquecido que tirar fotos à tarde é um tremendo desafio, e cada minuto é precioso, pois no minuto seguinte a cena pode estar encoberta por uma atmosfera de sonho, causada pelo nevoeiro. No meio do pátio ferroviário, destaca-se imponente o relógio que foi construído em Londres, no ano de 1898, para ser referência aos trens em dias de forte neblina. Uma passarela que atravessa a estação leva até o Museu Ferroviário, que expõe maquinários do antigo sistema ferroviário, e à área de embarque para o passeio de maria-fumaça, que é garantia de pura diversão.

A vila é charmosa, com suas casas coloridas feitas de madeira, ruas de pedras, estreitas e sinuosas, igrejinha que foi construída para os funcionários católicos da ferrovia e tem até o "castelinho" no alto de um morro. A todo momento, ciclistas, motociclistas e skatistas invadem as ruas, se misturando a casais, idosos e famílias que visitam o local. Quem quiser passar alguns dias, pode se hospedar em pousadas, como a simpática Pousada do Artista, decorada com objetos que podem ser adquiridos pelos hóspedes. Outra opção interessante é se hospedar nas casas inglesas, onde moradores oferecem cama e café da manhã (sistema B&B).Mas há muito mais para se fazer na vila além de ver a estrada de ferro e curtir a natureza.

A vida cultural fervilha no mês de julho com eventos como o tradicional Festival de Inverno de Paranapiacaba, entre outros. Além disso, o local atrai cada vez mais artistas que montam ali seus ateliês de cerâmica, e não faltam exposições de arte com objetos para ver e comprar.O dia chega ao fim e termino meu passeio com um pedaço de bolo de chocolate e cafezinho para esquentar a tarde fria na serra, prometendo voltar em breve para conhecer e experimentar outras delícias da minha vila inglesa favorita.

Texto/fotos: Luciene Cimatti

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