domingo, 7 de junho de 2009

FESTA NA ALDEIA


Impossível definir quantos mundos diferentes habitam em São Paulo e arredores, que como grande parte das metrópoles, exibe contrastes entre evolução, atraso, riqueza, pobreza, passado, futuro. Nela se abrigam centenas de recantos escondidos que passamos a vida inteira sem sonhar que existem. É o fascínio de uma cidade que convida a ser descoberta, mas que jamais será inteiramente revelada.

Não é preciso ir muito longe para conhecer um desses recantos, um pedaço da nossa história que o tempo não conseguiu apagar. Resquícios da colonização indígena pelos jesuítas repousam no município de Carapicuíba, na antiga aldeia indígena que remonta ao século 17, a Aldeia de Carapicuíba. Localizada no Km 22,2 da Rodovia Raposo Tavares, foi tombada, em 1940, como patrimônio histórico nacional. Conhecida pelas festas folclóricas, casas coloniais e pelo restaurante chileno Peña Don Fernando, que é uma atração à parte, é um bom passeio para quem gosta de história, boa comida e um pouco de aventura.

Apesar da extensão da região que consiste a aldeia, a atração fica no largo formado pela pequena igreja antiga e cerca de 20 casas pintadas de branco e azul que circundam a praça, algumas moldadas com taipa de pilão. As casinhas antigas abrigam a prefeitura, posto dos correios, posto policial, bar, mercearia, biblioteca, museu e o restaurante, localizado nos fundos de uma das casas. A Casa da Cultura exibe exposições sobre tradições e costumes indígenas, como máscaras, artesanato e esculturas, de diversas tribos, entre elas os Guaianases, uma das primeiras tribos a habitar a região. É possível até visitar uma réplica de oca indígena, nas imediações da aldeia.

Antiga rota dos bandeirantes, a Aldeia de Carapicuíba foi fundada, em 1580, pelo padre José de Anchieta, e teve sua população indígena administrada pelos jesuítas. Lá os índios trabalhavam em troca de roupas, instrumentos de trabalho, remédios e orientação religiosa. Hoje, o folclore da região continua preservado por meio das festas tradicionais, que apresentam danças típicas, feira de artesanato, comidas, entre outros. A Festa de Santa Cruz, que sempre acontece no início de maio, no largo da aldeia, teve origem na época da colonização dos índios, e envolve danças, novenas e rezas. Outras festas populares são a Festa de Santa Cruzinha, em setembro, e a Festa de Santa Catarina, romaria que acontece em novembro.

Além das festas folclóricas, a atração imperdível é o Peña Don Fernando, incrustrado na aldeia e na história do local. Inspirado nas “peñas chilenas”; locais rústicos onde as pessoas se reuniam para cantar; o restaurante tem chão de terra batida, teto de sapé e forno a lenha, além da decoração inusitada, que inclui bandeiras, fotos e cartazes cheios de humor. Nas noites de sexta e sábado, e almoço de domingo, o local apresenta música latina ao vivo. Placas na estrada sinalizam a entrada da aldeia e anunciam as especialidades da casa, como empanadas, pastel de choclo (prato tradicional chileno à base de milho), frango ou peixe no barro. Minha promessa de retornar fica por conta da banana assada com açúcar e canela, iguaria de dar água na boca.
Texto/fotos: Luciene Cimatti

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